sexta-feira, 29 de maio de 2009

Fase Podrômica.

E então, quando torna-se difícil encontrar o limiar entre o normal e o patológico, é por que estamos nos perdendo nas suas entrelinhas?
Penso que uma hora eu ei de surtar. Não é possível deparar-me com patologias diferentes todo dia, com histórias semelhantes à minha todo dia e continuar sã.
Sabe aquela história de que cada pessoa que passa em nossas vidas leva um pouquinho de nós e deixa um pouquinho de si?
Pois veja bem se não tenho a razão.
Acordo cedo todo dia, me dirijo à clínica psiquiátrica onde estagio, chego no horário, tenho que ouvir de pessoas que são tão estagiárias quanto eu que estou atrasada e que tenho de rever conceitos pois estou me preparando para a profissão, mas e elas? não estão preparando-se também para a formação? querida, faz o teu que eu faço o meu. Saio ligeiramente e já estressada da sala dos estagiários e me dirijo à unidade.
Lá me acalmo. Vejo pessoas com tantos problemas maiores que os meus, que tem tanto do que reclamar, mas que estão lá, rindo junto à seus amigos imaginários. Isso me faz um bem inenarrável. Entro na viagem deles, rio junto e converso com seus amigos. Experiência que só quem passa pra entender.
Sendo assim, será que não sou eu a louca? Não ouço vozes, não acho que as pessoas me perseguem ou que tenha câmeras e microfones instalados na minha casa. Mas tenho minhas angústias. Tenho meus medos bizarros. E principalmente, gosto mais de pessoas com a dita patologia do que as ditas "normais".
Sabe, admiro as pessoas que reconhecem seus problemas e buscam ajuda, gosto das pessoas que sabem seu ponto de ruptura e apesar de terem todos seus medicamentos, alucinações, delírios e tudo mais com o que se preocupar, param para olhar o seu próximo. Estão sempre dispostos a estender uma mão a quem necessita.
São pessoas que caem, mas se esforçam para tentar levantar o outro. Admirável, força imensurável, compaixão.
Tenho muito o que aprender com eles ainda, e vejam bem, tenho a certeza de que os ouvindo, acabo mais por ser ajudada do que ajudando. São pessoas assim que engrandecem minha vida a cada dia e fazem eu querer cada vez mais estar perto dessas patologias.
Posso perder muitas vezes o limiar, adoecer junto, mas tudo é crescimento, é ajuda mútua. Quando penso estar mal, eles me levantam e me sinto capaz de ajudá-los a levantar.
Tento outra vez.
Compaixão, passe adiante.

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